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um blog da diáspora blasée

O Carnaval

Fevereiro 25, 2009

No entanto eu até já desfilei no Sambódromo um bocado à frente da Velha Guarda da Portela  vestida de aquário, de relógio, de alterofilista, de pierrot e já pulei no Azeitona sem Caroço, No Simpatia é Quase Amor e ao lado das drag queens fantásticas e estilosas da Banda de Ipanema. Aí até caí no chão e foi de total felicidade e por causa de umas batidinhas de maracujá e por me estar a ser oferecido viver um Carnaval longe de Ovar ou de Torres. Lembro-me que enquanto me tentavam retirar da sarjeta - caí ao lado de uma sarjeta - eu ria e ria e dizia chamem os fulanos da RTPi que estão aí na frente para me entrevistarem,  ah ah ah, uma portuguesa tão longe de casa, no meio da folia, trying to samba ao lado de esculturais travestis. Claro que ninguém chamou. E a Ivani Flora ía lá querer saber de mim, sempre tão vestida ela, tão aprumada no centro do Rio fazendo a mesma reportagem, pelo menos há sete anos, directamente do Bloco do Cordão da Bola Preta. A esse nunca fui. Mas não sou de maldizer. Cada um é feliz como quer e a época a isso obriga.

 

Então temo (nunca uso esta palavra) que tenhamos chegado ao busílis da questão, a felicidade. Ou como gosto de lhe chamar quando estou em privado com Ela, a porcaria da felicidade. 

A porcaria da felicidade era a última coisa que me apetecia estes dias o que até pode parecer um contrasenso para uma viciada em diga sins, mas a coerencia nunca passou por aqui. E a liberdade também não, apesar do disco. Restava-me só uma coisa, fechar-me em casa e ignorar o resto Rio de Janeiro e as peguntas em jeito de condenação da minha filha totalmente aculturada, Mas mãe como você não gosta de Carnaval? E tendo cagado para os amigos bastante endemonizados e os outros palermas foliões, foram as perguntas dela durante estes dias que me chatearam. Porque me lembravam do meu grau de frigidez carnavalesca. Convenhamos eu não estava em Ovar, eu não estava em Torres, eu não estava na Madeira. Eu estava, ainda estou porque sobrevivi no RIO DE JANEIRO e não pular o carnaval no Rio além de fazer de nós uns doentes mentais ainda traz uma culpa danada.

 

No Sábado, bem cedo, para fugir dos favelados, dos maconheiros, dos embriagadose dos farofeiros tentei ir à praia. Antes cruzei-me com o RF. Deviamos ser os únicos acordados em todo o Leblon. Dei-lhe um olá com a cabeça, ele respondeu do outro lado da passadeira com um piscar de olhos e ficou a olhar algum tempo para mim o que me animou e mais uma vez ponderei pedir-lhe a entrevista e mais uma vez não fui capaz. Da próxima não passa.

A praia estava impossível (e assim ficou até hoje que já lá fui ver) o mar mais cheio de merda que a Praia da Fonte da Telha. Não vou falar da populaça e das tendas que montaram com as velhas lá em baixo e da gordura que alastra como um C. os desafortunados desta terra.

Vim para casa sem pagar a cadeira - um protesto - ao fim de 30 minutos a torrar ao sol e uma tentativa frustrada de entrar no mar. Uma porcaria.

 

No Domingo tive um churrasco na cobertura de uns queridos amigos. No churrasco também estavam argentinos. Houve aquela rixa de sempre entre eles sobre quem assa melhor a picanha. Ambos são bons. Comi e fumei. E tive de ouvir 457 vezes o samba enredo da Portela, este ano cheio de palavas difíceis de cantar como miscigenação.

De volta a casa as ruas já só cheiravam a chichi e havia bêbados no chão. Como também já não estava muito bem, fui dormir.

 

Na segunda acordei com uma virose. Lembrei-me da minha mãe e do meu pai com uns lençóis bancos em cima, fantasiados de fantasmas, a sair para um assalto, virei-me para o lado e adormeci outra vez. Só abri os olhos para ler umas coisas sobre a Lee Miller, que uma amiga interessada em fazer de mim uma pessoa melhor me tinha mandado, e ver um you tube do Caetano e outro do Chico. Devem ter passado uns três blocos a gritar  (cantar?) Olha a cabeleira do zézé, sera que ele é? será que ele é? Bichaaaaaa.

No fim do dia fui à Travessa - os livreiros também estavam fantasiados, ups, mas há lá um muito giro - e comprei, Na Praia de Ian Mcewan, para ver se começo a escrever melhor e interromper um pouco a leitura de, Os Detetives Selvagens de Roberto Bolaño. O romance mais esquisito que já li.

Para voltar tive que fugir de mais uns blocos e quase atropelei um adolescente que fez um mortal à frente do meu carro.

Ontem dormi o dia inteiro, tive 37,5 de febre e mesmo que não tivesse tido, planeava já aquecer o termómetro no candeeiro da mesinha de cabeceira.  Finalmente uma desculpa de jeito para não ir pular o Carnaval. Dizem que estar só fortalece e eu até sei quem diz, mas estou mais preocupada agora com a porcaria da felicidade. Já a formiga tem catarro.

 

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