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um blog da diáspora blasée

Aquela batida do violão (isto está quase uma novela)

Junho 30, 2008

VOLTEI AO ESTACIONAMENTO COM O TICKET NA BOCA, just in case – conseguia encontrar os tickets de estacionamento – naquele humor sem precedentes e nem por instantes pensei, como era meu costume, que tanta felicidade só podia descambar num acontecimento de proporções catastróficas. No carro enquanto ajeitava os espelhos, achei que ao contrário de todas as amigas que, nitidamente, estavam um bagaço e eram exploradas na banca, eu continuava nos trinques. Ele iria gostar de me conhecer, a maluquice não é coisa visível a olho nu.
Levantei o assento à minha vontade, girei a chave na ignição, liguei o ar condicionado, acendi o rádio e fiquei sintonizando-o calmamente, até encontrar uma música decente. Parei na JB FM imediatamente fulminada com a coincidência – atentem que tudo eu achava serem acasos e coincidências, sinais divinos para prosseguir no meu objetivo - de estar a tocar Retrato em branco e preto.
Aquela sensação boa que uma música de que gostamos muito pode provocar em nós, paradoxalmente de reconhecimento e de espanto, logo me atingiu, não como um soco, mas como um calor qualquer, vindo de algum lugar do cérebro que o Damásio saberia reconhecer, mas eu não. Recordei um Verão muito especifico, no Alentejo e uma paixoneta antiga que (achei) ainda não era bom lembrar.

Aquela batida do violão - após Joss Stone e pré Marina Lima

Junho 29, 2008

NO DIA EM QUE O FUI LEVAR AO TOM JOBIM e ao contrário do que seria de esperar, não podia estar mais feliz, nem conseguia esconder tamanha alegria. O que fez com que embarcasse triste, por um lado, mas imensamente confiante na mulherzinha, por outro. Ou não tivessem as coisas sempre duas caras. E claro que havia razões palpáveis, uma ou outra infidelidade passada, que talvez pudessem ensombrar-nos a despedida, mas ficou assente, daquela maneira calada com que os casais selam pactos, que a razão de tal felicidade se devia, simplesmente, ao facto de eu achar que finalmente teria tempo para me dedicar à porra do livro, que não conseguia terminar de escrever.
E foi assim que nos despedimos, in a good mood, no Terminal Dois do único aeroporto com nome de músico, no mundo.

Aquela batida do violão II

Junho 27, 2008

E NÃO SEI COMO METI AQUELA IDÉIA NA CABEÇA. Ou sequer se a meti, sei lá. Mas lembro exatamente o dia em que soube que já não ia voltar atrás no meu intento. Ou o dia em que tive a certeza de que estava obcecada, pra lá de Marrakesh, como na música. Que faria tudo o que estivesse ao meu alcance para lhe fazer notar a minha existenciazinha alegre. Pensava, muitas vezes, se não estaria igual a um ou outro freak fanático, mas acabava sempre por me desculpar. Eu estava, talvez, maluca, mas era bem superior a um qualquer: os meus intentos não eram agressivos. Egóticos, sim. Nunca agressivos, tenham lá paciência. Só queria que ele me notasse. Para ser mais exata, pusesse os olhos em cima de mim com cuidado, fosse simpático, como eu achava que merecia, trocássemos algumas palavras, o que certamente o faria interessar-se e até convidar-me para um cafezinho.
Embora algo alheada, em tudo eu continuava a aparentar normalidade, mesmo se me começava a ser difícil seguir algumas conversas. Acabava sempre por me perder, sem fazer a mínima do que se falava.
Ter dito – subtilmente – ao Gustavo que, seria interessante aceitar a proposta e ir seis meses para o Japão fazer o tal Job - Rotation, foi só mais uma evidencia. Ou, se quisermos ser literários e é claro que sim, a cereja no topo do bolo.

Aquela batida do violão ou um plágio mais ou menos obscuro

Junho 26, 2008

PRECISEI DE POUCO TEMPO PARA DESCOBRIR ONDE ELE MORAVA. Normalmente bastava abrir o Segundo Caderno do Globo, antes da caminhada matinal até ao Hotel Cesar Park, em Ipanema e lá estava um apontamento qualquer, uma notícia miudinha na coluna do Joaquim Ferreira dos Santos, que eu recortava e guardava meticulosamente na caixa de sapatos amiga do ambiente que escondia a custo da minha empregada mineira.
O homem era uma star-eremita. Muito antes de eu chegar ao Rio, o homem já era uma star- eremita. Vivia encafuado no apartamento de quinhentos metros quadrados, com vista lateral de mar, na Rua João Lira, no Leblon, jamais saía à rua e pelo que eu lia nos jornais, parecia levar a sério a máxima sartreana de que o inferno são os outros. Infelizmente não podia estar de acordo com ele. Após alguns anos de desconstrução freudiana - induzida por uma crise aguda de segunda adolescência - tinha ficado muito claro para mim, que o inferno somos nós.

Moleskine

Junho 24, 2008

FIXO UMA PORCARIAZINHA QUALQUER NO CHÃO DA RUA, uma folha completamente desproporcional de árvore da borracha, talvez, Merda, há dias que não blogo e no entanto que calmaria é esta na minha cabeça, que pasmaceira? Vale João, que saiu da clausura na João Lira e voltou ao Carnegie. Penso se terá, ele também, problemas com os eletrodomésticos por causa da maresia. [...]
Já o grande Tim Maia dizia que o segredo do seu sucesso era uma média bem doseada entre canções esquenta sovaco e mela cueca. Um louco. Morreu quase em palco. Agora sei porque acabei o livro.
O Zieger voltou a insistir que preciso do colo da mamãe. Fiquei a olhar para ele com cara de parva. Gosto de sessões mais complicadas. Mas esta semana é de pagamento. E nas semanas de pagamento nunca corre bem. I wonder why.

O lenço do Buffon e a nova Livraria Guimarães

Junho 18, 2008

NÃO HÁ ASSUNTOS QUE NÃO POSSAM SER LIGADOS. Caso do lenço com que o Buffon tem aparecido em campo e a renovada Livraria Guimarães, em Lisboa. Do lenço gosto. Da livraria não. O Buffon tem estilo, sabe que tem estilo, que é bom, que parece saído do Padrinho para a baliza da squadra azzurra. Pode. O Buffon pode e tem cara de quem pode e sabe que pode. Por exemplo, se o Ricardo aparecesse com aquele lenço e estrelasse uma de suas saídas em falso seria hilário. Por isso ao Ricardo não é permitido o uso de um lenço. Mas ele sabe, coitado. Ao Ricardo, não é permitido sequer abrir a boca, que fala fininho e nos lembra imediatamente que vamos ser submetidos a vários ai jesus de cada vez que os boches amanhã se lembrarem de marcar bem um pontapé de canto. Bem e a livraria? Aquela livraria é uma espécie de Ricardo de lenço. Uma coisa em bicos de pés. Uma coisa que quer ser o que não é. As peruas da Vieira Souto, que têm estatuto, mas não têm cultura e são bacocas no deslumbre pela Europa, iam achar chiquerésimo, tanto lustre, tanta pena, tanto candelabro a fingir de antigo e ainda por cima com livros.
Mas, infelizmente, os livros não interessam nada ali. São peanuts. Ali interessa o pode alguém ser quem não é. A imagem que o dono da nova Guimarães nos quer impingir dele do seu novo status. Livros como naturezas mortas para poucos, lugares ostentatórios e armados ao pingarelho. Quem serão as pessoas normais que terão a coragem de se sentar naquelas poltronas azuis e brancas tão obsessivamente alinhadas, sem pensar que o que se vai seguir é uma reunião de accionistas maioritários do BCP?
Algum ente querido devia dizer-lhe que faz uma triste figura de emergente intelectual ao atar assim o lenço do Buffon ao pescoço. É para isso que serve a família.

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