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um blog da diáspora blasée

Ça va sans dire

Julho 22, 2008

EU SEI QUE TU SABES QUE EU SEI QUE TU SABES. De outras coisas. Mas no Domingo sonhei (na vida real) com o Caetano. Então, o fulano andava com a Preta Gil e eu numa ocasião social – daquelas que odiamos quando separados, mas amamos estando juntos, – cruzei-me com ele. Era uma Boca Livre qualquer. E como estava avançada ou talvez um pouco junkie, confrontei-o com o facto. E põe facto nisso dele andar enrolado com a Preta. Ele ficou P da vida. Vi logo. Mesmo sonhando. Sabes como sou perspicaz. Alfinetei-o. Nossaaaaaaa!! Caetanooooooo!! – assim mesmo, como se me estivesse a vir, como elas - Com a Preta?!!!!
Aí ele respondeu , Sim – todo Nescauzinho, todo Pamonha - com a Preta e o que você tem com isso, minina?
Eu acho que tu nunca viste a Preta Gil. Googla-a. Claro que o meu problema nem é ela, é o pai dela, o ministro, o cantor. O daquela música Drão e Nem tão metafísico assim e o caraças. Enfim... A coisa rolou.
A noite lá continuou cheia de babacas e tal, e lá vim para casa. Ou melhor, trouxeram-me a casa, que agora há o problema do Bafômetro, (vá, ri-te). Onde acordei, dia seguinte, paninhos quentes na cabeça, Engove e assim e não corri e não escrevi. Só recebi a notícia pelo Maiquesuel, porteiro, de que o Caetano Veloso tinha passado para saber se era aqui que morava uma portuguesa, uma tal de Tigresa Isabel do Amaral...
Digo-te, acho mesmo que preciso de ti.

ABV - Sympathy for the devil

Julho 22, 2008

EU DE SHORTS, rabo de cavalo caminho do calçadão. Ele caminhando na minha direcção de paletó azul escuro impecável àquela hora da manhã. Please to meet you hope you guess my name, oh yeah. O ar ainda fresquíssimo,o sol furando as àrvores da rua dele, já ao meu lado.Páro a corrida. Ele sabia que eu ia parar a corrida? the nature of my game. Olá João. Oi como vai? Não tenho te visto. Ahn? (ele conhece-me?!) Pois... moro por aqui. Aponto vagamente a minha rua. Estamos frente a frente. Sei que estou toda desalinhada. Ele desvia os olhos do meu peito. Sinto uma luz branca no umbigo. E seus filhos? Meus filhos? Sim, estão em férias? Estão, João. Emergencialmente tenho que lhe tocar, senão não vale. Três segundos em silêncio. Não sei onde pôr as mãos, agarro-lhe os braços e digo, Você não sabe do prazer de estar aqui a falar com você! Ele ri, um pouquinho envergonhado. Não lhe largo os braços. Os seus filhos estudam no Santo Agostinho, não é? E acordo.

ABV – marca passo

Julho 07, 2008

OS DOIS PRIMEIROS MESES permitiram que conhecesse a rotina do prédio. O vai e vem dos porteiros, dos faxineiros e das domésticas. Passei a acordar a tempo de caminhar no calçadão, entrar no mar e tomar o banho de sal contra o olho gordo e ainda conseguir acompanhar as primeiras movimentações no número 71. Tudo se passava sem muitas complicações. Com o Gustavo fora restou-me inventar à Bia que não conseguia trabalhar em casa e por isso passara a escrever no bistrozinho da livraria Argumento. Não fez qualquer pergunta feliz de me ver pelas costas e parar de lhe encher o saco, com exigências domésticas completamente mesquinhas.

ABV – a lista

Julho 04, 2008

E AGORA QUE A NARRADORA ADORMECEU teremos vontade de espiolhar o que minutos antes ela anotara no Moleskine fajuto, adquirido no Camelódromo do Rio de Janeiro, para melhor entender do seu grau de loucura? Estou certa que sim, ou não fossemos todos iguais no que respeita a certos gostos mais mesquinhos e por isso nunca revelados. Assim assumindo e na certeza de que têm pouco tempo, transcrevem-se aqui as linhas, na esperança de que nada se perca e tudo se transforme.

Rio, 3 de Janeiro - JG
- falar com todos os faxineiros e domésticas do prédio
- abordar o carteiro
- não deixar passar um único moço das entregas, muita atenção aos entregadores do Zona Sul, Hortifruti, Drogarias Pacheco ou outros
- Atenção às entregas de restaurantes tradicionais como o Álvaro´s ou ou Le COIN.
-Descobrir quem é o motorista
-Descobrir se tem arrumadeira, faxineira e cozinheira
- Qual a marca do carro?
- Faz dedetização da cobertura?

ABV – por fim peladona em cima da cama King Size

Julho 02, 2008

SAÍ DO CARRO E CAMINHEI EM DIRECÇÃO À ESQUINA com a Vieira Souto onde havia um Orelhão. Fingi que estava a falar e observei a rua e o prédio. Sabia que ele morava na cobertura. Um prédio lindo, com aquelas varandas enormes tão típicas dos edifícios da orla. Fiquei uns dez minutos olhando até aparecer um porteiro qualquer querendo fazer uma ligação. Afastei-me do Orelhão, encostei-me à grade do prédio próximo e fingi que estava à espera que ele acabasse, para voltar ao telefone. Ele despachou-se rápido na ligação à filha e quando já se ia embora sorri e perguntei-lhe, o mais candidamente possível, se o músico não morava naquele prédio ali. Olhou-me meio jocoso. Por certo muito fã lhe perguntava o mesmo, fazendo dele um homem finalmente importante e respondeu-me que sim. Seu João morava mesmo ali, mas nunca saía para passear, sequer tomar um cafezinho no bairro. Vi-o inflar e esperar pelo meu desencanto, que não veio. Disso eu já sabia. Era apenas o seu momento de síndico, do qual eu não estava a fim de participar. A merda dos pequenos poderes. Armei-me em madame, dei um tchau e bati com a porta do carro importado na sua cara de babaca. O parvalhão não me largava interessado em saber mais detalhes sobre as minhas intenções. Porteiro metidinho, esse.
Voltei a casa. Preparei um queijo quente e bebi um suco de laranja com cenoura quase fora da validade, que tinha comprado para o Gustavo e que ele não tinha bebido por causa das crises de úlcera. Depois tomei um duche gelado e deitei-me, sem me secar, em cima da cama King Size contente de tanta e recente solidão e fiz uma lista de ações que me permitiriam encontrar o gênio baiano.
Pela janela aberta do quarto ouvia o mar do Leblon e também as cigarras afogueadas de tanto calor. Procurei sentir o cheiro inigualável a Dama da Noite que costuma espalhar-se pelas ruas do Rio nas noites quentes de Verão e caí num sono profundo. Deep, deep, deep waters...

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