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um blog da diáspora blasée

ABV – pequena pausa para encher chouriços

Julho 02, 2008

FIZ, EMBALADA PELA MÚSICA, sem pensar uma vez sequer em balas perdidas, toda a linha amarela, via rápida que margeia o Complexo do Alemão. Só encontrei um bocado de trânsito no Túnel Rebouças e nos sinais junto ao Jockey, na Lagoa, onde não há o perigo das balas, mas a insistência dos pivetes, lavadores de vidros. Meti a bolsa verdadeira debaixo do banco e tirei do porta luvas a bolsa do ladrão. Mulher prevenida vale por duas.
Em vez de passar em casa e deixar o carro na garagem, ou talvez porque ainda estivesse pouco à vontade para deambular a pé pela rua, fui direta à João Lira e estacionei em frente ao número 71, bem onde o Flanelinha me fazia sinal. Observar o movimento dentro do carro seria melhor.
Precisei de uns bons minutos para me acalmar e conseguir abrir o vidro para pagar ao garoto preto, do Rio Rotativo, os dois reais que me permitiam ficar por ali.
Além de nervosa, sentia-me culpada. Gustavo ainda não tinha levantado vôo e eu já o driblava. Foi a custo que o atendi e despachei o mais depressa que pude, quando ligou já de dentro do avião, para se despedir. Como era nosso hábito.

ABV – intimidades

Julho 01, 2008

ESSA ESTÚPIDA RECORDAÇÃO FEZ-ME, então, rir de mim. Algo relaxante, uma forma de baixar as expectativas dos outros, mantendo o grau de exigência, no que a mim dizia respeito, baixinho, baixinho. Eu era mestre no boicote a mim mesma.
Única forma de me suportar e de me suportarem? Enfim, naquele dia regressei ao Leblon, como se nada de complicado estivesse a acontecer na minha vida, ou melhor, na minha cabeça. Porque para mim, tudo era de uma simplicidade atroz. Eu queria ver o homem, ponto. O homem é que não queria ver ninguém e eu tinha que lhe perguntar o porquê daquela palhaçada lendária, aquele fechar-se em casas de banho aprimorando a voz e o violão, dias a fio. Se havia alguém louco ali, não era eu. Era ele. E não valia a pena, João, tamanho esforço.
(Não. Não tropeço na intimidade forçada, mas quando finalmente o abordasse, não seria para lhe chamar, Seu João.)

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