Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

um blog da diáspora blasée

lembrete

Maio 29, 2009

Hoje vi a velhota do AVC. Ha seis meses que nao a via e no meio da vidinha fina, das inusitadas entrevistas que ora me afagaram o ego, ora me tornaram uma fobicazinha social, das analises a tiroide, das conversas obtusas sobre o sentido da vida, das provas de calculos da minha filha e das suas incertezas nocturnas quanto a amizade (que tento apaziguar protectora), quase me tinha esquecido de pensar nela.

Desta vez nao apanhava sol no Calcadao. Era simplesmente passeada, numa rua em Ipanema, de cadeira de rodas, por uma baba.  Pareceu-me igual, nem mais velha, nem mais doente. Apenas a mesma visao dantesca. A mesma boca toda aberta (nao a deve conseguir fechar) com os dentes de fora. Uma almofada branca no colo e a cabeca atirada para tras. As maos dela, como da outra vez, continuavam atadas pelos pulsos aos bracos da cadeira. 

Nao sei como aquela coitada ainda continua viva, apesar de saber muito bem que 'e dificil morrer, porque ja vi morrer. Mas espero que volte a passar por mim, daqui a outros seis meses, cheia de sol na cara. Mesmo que, no caso dela, o sol ja nao sirva para nada. 

Faz-me lembrar de duas ou tres coisas essenciais.

 

dos lugares

Maio 21, 2009

'E como aquelas pessoas que tem um cancer e nao querem mais se curar.

Como o que? Voltou a perguntar Juju enquanto saboreava o vatapa, como se um vatapa fosse algum delirio dos deuses. Um Vatapa 'e um vatapa nada de especial, mas Juju dava sempre demasiada importancia a comida.

Como aquelas pessoas que preferem morrer logo a fazer mais uma sessao de quimio. Respondeu Ray, nitidamente incomodada com o apetite voraz da amiga que, em sua opiniao, perante assunto tao delicado se deveria concentrar apenas em acabar com o liquido quente que  lhe restava no copo e que minutos antes ainda era uma caipirinha de caju com limao mas, ao contrario, manifestava era uma fome capaz de comer um boi, revelando sua total insensibilidade em relacao ao sofrimento alheio. Uma coisa que ultimamente vinha atormentando a vida de Ray Clea, a ponto de querer dissecar todos os cambiantes da condicao humana e tambem da alma humana.  E isto tentava fazer ela,  agora com Juju, as duas na frente do dito vatapa e do mar da Bahia e das danadas das caipirinhas. Como se isso fosse possivel.

 

 

 

A Tarde

Maio 14, 2009

Mas então, melancolias à parte, fixemo-nos em Ray Clea. Melhor. Olhemos bem para a sua linda cabeleira afro-power e deixemo-nos levar em considerações de certa forma beligerantes, como aconteceu com D. Juju, da primeira vez que pôs os olhos em cima da baiana. Aconteceu, mas ela não notou ou não quis notar. O que só fez aumentar a sua fixação em Ray, naturalmente, como com todas as coisas que negamos dentro de nós. Estivessemos lá e  teriamos avisado a incauta, mas não estávamos. E portanto os cabelos de Ray Clea eram, juntamente com o seu intelecto, aquilo que mais atraía as mulheres em geral e alguns homens em particular,  para o mundo louco em que esta mulher, admiradora do New Journalism e de Gay Talese se movimentava. E ela sabia bem movimentar-se, diariamente ( como toda a gente) ,  giríssima (como pouca gente), pelos corredores d ´A Tarde, o principal jornal do Estado da Bahia, pertença do maior grupo de comunicação do nordeste.

Boxe

Maio 12, 2009

Há dez noites o écran do Word em branco e o livro do Steinbeck pousado aqui na mesa. Se não me tivesses morrido saberias que hoje eu tinha estado na Feira do Livro, o meu nome anunciado por uma senhora com voz treinada para o efeito. Nada como nos nossos tempos, em que a feira era maior, ou parecia maior, e mais desorganizada, sinceramente já não sei e em que eu não tinha dinheiro para comprar livros e tu tinhas e portanto me compraste na barraca dos Livros do Brasil o livro que agora aqui está à minha esquerda e me acompanha as noites danadas de melancolia que me perseguem, porque sei que o que vou escrever é sobre ti e sobre nós e talvez todos os outros que andaram à nossa volta, ainda não sei muito bem. Mas talvez seja assim sempre que se começa, um amontoado de músicas e momentos que não nos saem da cabeça. Acredita que não sei o que vou dizer. 

Deverias ter passado por lá, olhado piedosamente para mim e para a minha vontade suja de aprovação e seguido em frente,  feliz e tão rodeada das tuas crianças e do teu marido e sem qualquer  necessidade que não a da vida limpa que levavas.
 
 

Os desenhos animados do Vasco Granja

Maio 05, 2009

Eu nao gostava dos desenhos animados do Vasco Granja e dou Gracas a Deus - sou Te'ista, que o Richard Dawkins nao saiba, e adoro o Frank Sinatra e o Pedro Mexia - por nao ter ficado afectada por aquela estetica minimalista.  'E que pessoas que amo, ainda hoje gostam de ir ver Instalacoes por causa do VG . Imagino que ele tivesse a melhor das vontades e estivesse empenhado - nao estavam todos naquela altura? - em doutrinar-nos no bom gosto de uma coisa diferente, mas aqueles desenhos animados eram tudo menos apelativos. Era preciso um esforco para se gostar deles e eu so muito mais tarde  passei a acreditar que, por vezes, gostar, vale o esforco de uma educacao qualquer. Como me dizia ha bem pouco tempo, um amigo, quando fal'avamos dos livros de Borges, Foda-se Monica, mas tens que estar preparada para gostar de coisas dif'iceis. Entao chegada ao Rio comprei o Livro de Areia e aquilo nao me diz nada.

O Vasco Granja era um senhor simpatico (daquela forma estranha que os pais PCPs eram, porque viam em nos o futuro de Portugal e ja tinham despertado para essas cenas da pedagogia e tal) e eu gostava dele porque naqueles tempos ninguem tinha muito tempo para nos ligar, a mim e ao meu irmao e a nossa vida no colegio era muito mais parecida com os desenhos do Tom&Jerry. O meu pai, por exemplo, andava de pullover vermelho a gritar pelo Mario Soares, na Alameda, e acho que cheguei a brincar com um megafone em casa, enquanto via o Vasco Granja e achava o polaco, ou o checoslovaco, linguas muito agressivas. Mas o meu pai, como de resto, a maioria dos amigos 'e muito susceptivel e nao gosta nada de se ver retratado no blog, por isso apesar de muito mais a dizer, vou parar.

 

Ola amiguinhos!

 

Tudo um bocadinho aterrador. Mas fazia e faz parte. Tem-me morrido muita gente.

 

 

 

Ray Clea

Maio 04, 2009

As amantes de D. Juju. Ups, lapsus linguae. Recomeçando: As amantes do Coronel não mais faziam que lembrar a D. Juju da sua incompletude. Agora sim.

Desde sempre soubera que o marido tinha uma predilecção especial por garotas baianas. Assim como os maridos de suas amigas gostavam de loiras ou morenas, Antônio Bento gostava de baianas. E podemos afirmar, com todo o conhecimento de causa, que Juju conseguia ser muitas coisas e até reinventar-se fim de semana sim, fim de semana não, a fim de manter o seu casamento acima do nível de água, mas de baiana nada tinha. 

A constatação desse facto, feita por confronto com as pistas que seu marido ia deixando por descuido e porque os homens não têm qualquer jeito para a infidelidade, ao contrário de a afastar desse Estado -  onde portugueses econtraram as suas primeiras Indias - atraiu-a como um iman. E foi por isso que a coitada, num dia aziago ou não, foi conhecer a fantástica Ray Clea.

 

Mais sobre mim

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Para Interromper o Amor

Correio

folhassoltas@gmail.com

Arquivo

  1. 2011
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2010
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2009
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2008
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2007
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2006
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D