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um blog da diáspora blasée

Hoje acordei outra vez muito cedo e fui correr

Agosto 30, 2009

E uma manhã perfeita de Inverno no Rio é uma manhã como a de hoje. Não há muito a dizer e no entanto há um monte de coisas a dizer, era bom não ser tão preguiçosa. Há os velhinhos e suas bábás, as crianças e suas bábás e seus  pais que fazem amor, em seus apartamentos no Leblon,  porque é uma manhã linda de Domingo e eles pressentiram isso  e finalmente têm vontade e tempo. Há o mar ainda limpo e a praia sem vendedores ambulantes. Há homens interessantes com o jornal  Globo na mão e cheiro a café e mulheres magníficas e bronzeadas com seus ténis nike que vão e voltam ao Arpoador em vinte minutos. Há algumas asas delta sobrevoando o morro Dois Irmãos. Há uma manif de dez políciais civis que nunca foram corruptos. Há as meninas do vôlei, suas pernas de gazela e barriga tanquinho, há pais divorciados muito apetecíveis de bermudas osklen, olhando por trás dos óculos escuros enquanto brincam com seus filhos loiros. E com seus filhos pretos. Há peruas cheias de grana que encontram amigas. Há picolés e àgua de côco. Há as famílias antigas do Leblon que são diferentes das famílias antigas de Ipanema e das famílias antigas de Copacabana. Há as ilhas Cagarras muito mais nítidas do que no tórrido Verão e o mar mais verde à volta delas. E depois, e depois, e depois, a minha vontade de te mostrar tudo isto. Tão vaidosa. Como se tudo isto fosse meu. Como se tudo isto fosse eu.

instruções para o uso de sua nova Brastemp

Agosto 27, 2009

Então por isso te digo que, aquilo lá, brochou. Porque eu preciso da cabeça da pessoa comigo, sou daquelas que gostam de comer muito cuidadosamente a cabeça do peixe. Ouve, funciona assim e não há nada a fazer. Por isso mesmo quando estou sozinha não consigo fazer coisas a pensar, por exemplo, na cintura do Ronaldo, apesar da cintura do Ronaldo. Porque o Ronaldo para mim é uma estátua, não tem graça nenhuma. Mil vezes o António Sousa Homem ou a Maria Filomena Mónica, acreditas?

Disse-te muitas vezes, quando faziamos amor, que o que eu queria ter era a tua cabeça. Por isso tu dizes que eu sou marada e gosto demais do parlapié, tanto que me esqueço da performance. E dizes bem. Gozo só de te ouvir e quanto mais quieta ficar melhor. Passadinha de todo e ligada à droga alucinógena das palavras que usas. Mas, como tudo isto tem mão dupla, a vontade que eu quero de ti (sobretudo de ti) não pode ser só a do meu invólucro que não é nada de especial, tu sabes. Tem que ser  a tua vontade dos meus esqueletos. E não te preocupes que já deixei de ter mau perder, isto é mesmo assim, umas vezes a pescaria é boa, outras não.

 

 

escrever

Agosto 26, 2009

Abriste-me a porta do carro? Não me lembro, nem sei porque isso se tornou tão importante agora, mas o sol batia fortíssimo no capot do teu carro e reflectia nos meus óculos Ray-Ban. Um dia daqueles, em Lisboa. O dono do restaurante achou que eu tinha comido pouco, eu também acho que comi pouco, bem vistas as coisas fui bastante perdulária porque o bacalhau À Braz estava perfeito e eu já devia saber que depois, aqui, ia morrer de saudades. Uma das coisas boas que vêm com a idade deve ser essa capacidade de viver muito intensamente alguns momentos e de se deixar perder neles. E aquele era o nosso momento e eu fiz tudo para que aquele não fosse o nosso momento, precisamente porque não consigo perder-me. O médico chama a isto um nome qualquer triste, que agora não recordo, porque estou a ouvir aquela música e a ver-te olhar para mim e não quero que coisas técnicas venham estragar a minha memória de nós.

la llorona

Agosto 25, 2009

Há uma música da Marina Lima, Virgem. Eu gosto muito da Marina Lima, fui ver um show dela no ano passado e não consegui ficar sentada um minuto, era numa sala pequeníssima e foi uma coisa especial. Tenho o começo do livro na cabeça e não quero começar. Uma vez o Miguel Gullander, daquele jeito tão peculiar que ele tem, perguntou-me se eu tinha chorado enquanto escrevia o outro, que isso - chorar - lhe acontecia  muito quando escrevia e que só assim ele sabia que estava no caminho certo. Não lhe respondi, acho que até disfarcei, tenho-me tornado boa nisso. Ia ficar esquisito, os dois de copo na mão, encostados à ombreira da porta  de uma casa no Estoril, ele bebia cerveja e eu vinho branco, se começasse a pensar naquilo que ele me perguntava ia ser difícil manter o bom humor o resto do jantar. Mas agora aqui, do outro lado do mar, posso dizer que sim, que cansei de chorar. É, o tempo aqui tem estado merdoso e a Marina Lima é irmã do poeta Antônio Cícero e quem vai fazer Bruna Surfistinha no cinema é a Deborah Secco. Acho-a gira, sim.

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