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Dezembro 29, 2009
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Dezembro 29, 2009
Dezembro 26, 2009
( www.formspring.me/monicamarques)
As minhas experiências com Deus
I
Quando os meus filhos nasceram e das duas vezes mos puseram em cima da barriga todos sujos e muito feios. Quando chego ao Rio e calço as Havaianas pela primeira vez ao fim de muito tempo em Lisboa.
Sempre no fim da primeira caipirinha e a pensar que a segunda vai chegar, sem eu ter que a pedir. Quando revejo o meu melhor amigo e ele me abraça à bruta. Quando oiço música. Quando vejo aquela cena do Vicky Cristina Barcelona em que a Scarlett Johansson anuncia aos amantes que aquilo já não é para ela e a Penélope Cruz dá um show. Quando leio os Aforismos, da Agustina Bessa Luís. Quando vejo as Palmeiras Imperiais, no Jardim botânico, no Rio. Sempre que me meto no carro e sei que vou acabar na Praia da Comporta ao pôr do sol. Os minutos antes de entrar no Sambódromo quando os fogos anunciam que é a vez da Portela começar a desfilar, depois de horas de espera e já com o Sol a nascer. A dupla de fois-gras no Sushi Leblon. O Caetano a cantar. A Marina Lima a cantar. O João Gilberto a cantar. As meninas dos Nouvelle Vague. A tua cara quando estás quase a gozar e me amas imenso, mas não dizes nada, para não estragar. O chocolate. A loja da Catarina Portas. Clementinas. O perfume Allure, da Chanel. Estoirar o cartão de crédito em Nova Iorque. A Brooklin Bridge. Manhattan de Brooklin. Lisboa de Almada. Rio de Janeiro de Niterói. O cheiro a Dama da Noite entre as sete e as dez da noite à minha porta, na Venâncio Flores. Os jantares em casa do meu editor. Os desenhos do Pedro Vieira. Os quadros da Paula Rego. A própria Paula Rego. A voz do Pedro Rolo Duarte, no rádio. O picado nos discos de vinil. A pala de betão do Pavilhão de Portugal, do arquitecto Siza Vieira. A cor impossível do mar nas ilhas Phi Phi. Sair com os pescadores de barco em Paraty. A letra da minha filha. O meu filho a resolver páginas de desnecessários problemas de matemática. Sexo com amor. Sexo sem amor, mas a pensar que com amor é melhor. Quando disseram ao meu pai que o c. estava em remissão. Batatas fritas. Beijos na boca com língua. A ponta dos teus dedos, onde? Onde quiseres. O jogo Portugal vs Inglaterra no Euro qualquer coisa. Ouvir falar italiano. O Buffon. O Paul Newman. O Kill Bill II. A Marilyn a fingir que lê nas fotografias. O rabo da Marilyn nas outras fotografias. As letras das músicas do Djavan. Os livros do Virgílio Ferreira. Conversar com o José Rentes de Carvalho e ficar a saber que ele tinha a certeza de que eu era muito mais alta. Altíssima. O café da Livraria Argumento e os cadeirões perfeitos para ler, na Livraria da Travessa. Bebel, Dé e Cazuza a cantarem Preciso Dizer que Te Amo.
II
Caniches. Filmes mudos. O Charlot a comer aquele sapato. Ópera, quando não aguentamos mais os esforço da soprano e começamos a suar. Mau teatro. Guerras. As crianças nos sinais do Rio de Janeiro. As crianças alugadas ao colo dos pedintes na esquina da Ataúlfo de Paiva, aos fins de semana, no Rio de Janeiro. Quando o mar está impróprio, na praia do Leblon, num Domingo de Verão. Comida de avião. Quedas de aviões. Fundamentalismos. Bombistas suicidas. A frase Arbeit Macht Frei. O Professor Jorge Miranda a dizer que o casamento entre homossexuais é inconstitucional. Batatas fritas congeladas. O Papa alemão. As procissões da Páscoa em Vila Viçosa. Pessoas queridas que nos morrem cedo demais. Renunciar a Satanás. O Natal do Pai Natal. A Popota. Velhinhos sozinhos. A Igreja Universal do Reino de Deus ter comprado o Café Império. Músicas de Natal e festas de Natal no colégio das crianças. Os códigos de segurança na internet que nos fazem copiar letras ilegíveis. Pedófilos. Entrar numa loja dos chineses com a mãe para comprar soutiens. O Kim Jong Il. O cabelo do Kim Jong Il. Robert Mugabe, o Estaline e o Mao. Os pés enfaixados das meninas chinesas. O filme Non ou a Vã Glória de Mandar, do Manoel de Oliveira. O Lula a culpar a “gente branca de olhos azuis” pela crise económica. Os fatos de poliéster dos políticos corruptos de Brasília. Todos os brasileiros estupidamente ricos e sem cultura. Todos os brasileiros estupidamente pobres. Pessoas muito normais. O desamor, a inveja e o medo. E o medo do medo. Pombos, baratas e ratos. Música electrónica. Um psicanalista que não nos diga que não tivemos culpa. Não ter a certeza que Deus existe. Telenovelas portuguesas. As noites de Ano Novo em que é preciso estar muito contente e fazer a festa. Os preparativos para a ceia de Natal. Ir comprar os presentes de Natal e dizer: Este já está despachado. Tirar o papel transparente aos CDs novos. Putos com leucemia. Putos maltratados. Putos malcriados. Os programas da manhã na televisão. Nunca me lembrar de ver o Câmara Clara, da Paula Moura Pinheiro. O comando da Zon.
III
Pesado tudo isto acredito mesmo que Ele ande por aqui. Mas uns dias mais que outros, é verdade. Quando me morre alguém odeio-O, mas, por exemplo, sempre que me esqueço de tomar os ansiolíticos é uma desgraça, não preciso cá de provas, acredito n Ele como uma pedinte amorosa em auto-ilusão ou um arrumador de carros, agarradinho à droga, à procura de um sentido para a vida, alguma coisa que me distraia da minha melancolia permanente e estupidez persistente. Alguma coisa que me faça pensar que tudo isto tem uma razão de ser, um bom motivo, uma merda de um significado qualquer. É porque se Deus não existir... Vocês estão todos malucos, não?
Na revista Nós Religiosos, do i.
Dezembro 21, 2009
www.formspring.me/monicamarques
Época natalícia prolongada, respondo a todas as perguntas feitas até dia 14 de Janeiro. Todas. Anónimas, de preferência.
Dezembro 21, 2009
Raimunda
Não agüento mais olhar a cara da minha patroa. Mas tenho que olhar. Acordo às quatro e meia da manhã pego a Van e o Pirata e desço na Antero de Quental. Vou caminhando, meio dormindo, até ao Talho Capixaba a padaria de grã finos e filhinhos de papai do Leblon que tem o pão francês que ela gosta e os croissants do seu Vergara. Nunca sei dizer esse nome de bolo de gringo pro moço do balcão, fico sempre envergonhada.
Não tenho a chave do AP. A perua tem que levantar para abrir a porta. Ela faz isso sempre de calcinha e soutien e volta para a cama, para dormir até às nove. Olho muito a bunda dela enquanto ela volta pro quarto.
Boto a mesa do café. Faço o suco e o café amando a bunda flácida de minha patroa. Bunda de fumante. Tem caído muito ao longo desses anos. Por isso seu Vergara tem aquelas Playboys todas no criado mudo.
Sempre que posso vou nas Lojas Americanas e compro uma calcinha nova. Já trabalhei em casa de patroa que usava calcinha linda. Essa não liga pra calcinha. Faz mal, porque homem é tudo igual e vai procurar fora.
O que eu mais odeio é calcinha bege. Já falei pra ela não usar, que calcinha bege tira a tesão de homem. Ela só tem calcinha bege. E calcinha tem que ter bolinhas e ser muito colorida. Eu uso fio dental. Minha bunda é gostosa.
Troco o lençol toda a sexta. Ele e ela não transam. Maridos não gostam de transar com as mulheres, mas gostam de todas as outras. Doutorzinhos ricos de quadra de praia, no Leblon, fazem no máximo duas vezes no mês. Falo disso com minhas colegas, quando estamos subindo pra casa dentro do Pirata. Elas dizem o mesmo.
Só Jupiara, que trabalha em Copacabana, jura que os coroas fazem toda noite. Eu acho que é porque é Copacabana e lá as ruas são mais quentes e é tudo mais quente e há muita fumaça e poluição. Sexo é sujo mesmo. Todo mundo mente muito sobre sexo, o que gosta no sexo, essas coisas. Eu também não conto pra ninguém. E já fiz tudo. Menos com animais. Isso não gosto não. Mas sexo não é pra ser limpinho, tem que ter suor, tem que ter palavrão no ouvido, sangue também e outras coisas, como dedos na boca do outro, assim é que é gostoso. Adoro sexo. Sou uma lutadora mas no sexo é a única altura em que me rendo.
A minha amiga fala que a cueca do patrão tem cheiro. E eu pergunto, “Mas Jupiara quando é que você cheira a cueca do cara?”
Então ela explica que é quando vai botar na máquina, pra lavar. Aí ela dá uma cheirada, lá na área de serviço. Nenhuma patroa entra na cozinha, quanto mais em área de serviço. E a Ju adora cheirar cueca desses filhinhos de papai que fodem que nem cachorrinhos.
Já trabalhei pra Alemão e sei que lá também não se fodia e nem precisei ficar cheirando cueca. Deve ser coisa de europeu não foder e brasileiro tem mania que lá é tudo bom, então fica imitando. Brasileiro é burro mesmo.
A Ju é pirada. Mas o barato da Ju é outro. Acaba que todo o marmanjo se apaixona por ela e ficam lá fazendo às escondidas das madame na cama e no banheiro da suíte.
Ela fala que todo grã-fino gosta de comer ela por trás se olhando no espelho do banheiro. Homem é tudo besta, mesmo e tem um que de tão louco por ela, a levou pra comer picanha no Porcão da Ilha do Governador. Por esse ela se apaixonou.
Só que depois, claro, alguma coisa sempre dá errado e ela acaba sendo mandada embora pelo fodedor arrependido.
Por isso tem umas que não botam pra trabalhar dentro de casa neguinha bonita. Tem que ter algum defeito no corpo ou na fala, ou ser muito velha.
Eu sou feia de cara, mas boa de bunda. Minha patroa é que ainda não viu e continua lá, usando aquela calcinha bege. Deixa ela. Todo mês tenho que pagar pro agiota o dinheiro que ele me emprestou pra comprar a geladeira. O que eu quero é me mudar pro Empire State, aquele prédio lá na Rocinha, ou minha graça não seja Raimunda. Lindo, onze andares, no melhor ponto da favela.
Bruno ligou ontem me convidando pra sair. Inventei uma desculpa e não fui. Achei que queria me levar pro Motel. Tenho saudade do Bruno, mas meti na cabeça que vou me manter pura até o dia em que botar o pé no Empire State. Porque sexo desconcentra e sexo dá vontade de mais sexo e tira a razão. Como não transo há seis meses não sinto vontade, estou bem, mas não posso ter recaídas.
A Jupiara acha que virei sapata. Diz que faz mal pra minha reputação só ser vista trabalhando, ou saindo do culto com nossas amigas convertidas. Também deixei de beber e fumar. E isso sim, está me deixando louca. Outro dia minha patroa pediu que eu limpasse os rodapés todos do apartamento num dia. Quase saltei em cima dela. Mas me acalmei depois de encontrar uma nota de cinqüenta paus no bolso da calça de seu Vergara. Encontrado não é roubado, quem perdeu foi relaxado já falava minha mãe pra nós, lá em Minas. E eu vou conseguir. Meu nome é Raimunda, feia de cara, mas boa de bunda.
Dezembro 18, 2009
Olhem eu no meio dos bons nesta edição linda da Nós. Se melhorar estraga. É que nem me mexo, quietinha, quietinha, parece outro dia a seguir ao tremor de terra. Este ano a vida tem feito imenso sentido.
Dezembro 15, 2009
Dezembro 15, 2009
Dezembro 13, 2009
"She turns to you now, and with a look of utmost seriousness and conviction in her eyes, she sets forth her definition of love, wanting to know if you share her opinion or not. Real love, she says, is when you get as much pleasure from giving pleasure as you do from receiving it. What do you think Adam? Am i right or wrong? You tell her she is right. You tell her it is one of the most perceptive things she has ever said."
"No, you have not forgotten the vow you took when you were twelve years old, the promise you made to yourself to live your life as an ethical human being. You want to be a good person, and every day you struggle to follow the oath you swore on your dead brother´s memory, but as you sit on the sofa watching your sister put her glass down on the table, you tell yourself that love is not a moral issue, desire is not a moral issue(...)"
Paul Auster, Invisible.
Dezembro 10, 2009
Dezembro 10, 2009
Ontem sonhei contigo e contigo e contigo. Estávamos os quatro e felizmente não numa suruba, não pensem, vocês os três não se conheciam e portanto no sonho também não.
Tu fazias-me muito mal porque me dizias que eu era uma incompetente sexual e isso é muito verdade. Depois viravas-te para uma miúda giríssima e rias. São sempre assim os meus sonhos contigo. Há sempre comparações que me deixam de rastos e miúdas inteligentes e sexualmente desinibidas, com altas pernas e prontas a dormir contigo, que me fazem acordar maldisposta e passar o dia na merda porque nunca mais te dei o cu.
A ti encontrava-te na rua. Tínhamos voltado a ser amigos. Amigos com alguma cerimónia que é como devem ser todos os amigos. Não sei porque continuo a querer tanto esta merda, quer dizer, a nossa amizade em cacos.
E a ti não te conto o que me fazias porque tem a ver com sexo e o sexo bom não se conta, imagina-se. Nem tudo pode ser mau e até nos sonhos a vida é muito melhor sem perguntas nem respostas. Mas diz-me lá, és tu que tens o livro de instruções?
1 seguidor
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