Este blog continua de férias e a pensar
Janeiro 29, 2010
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Janeiro 29, 2010
Janeiro 28, 2010
Janeiro 25, 2010
O Gordo Egoísta
O Gordo Egoísta já existia lá na escola desde a pré-primária. Na Segunda Classe foi aluno da D. Irondina, uma velha para quem o Movimento da Escola Moderna não passava de uma prática de Belzebu. Isso impossibilitou-o de pôr as mãozinhas de fora e andar no recreio a chatear os outros. Nenhum aluno dessa senhora conseguia fazer muito mais do que passar horas e horas a fazer cópias para aperfeiçoar a caligrafia .
Acontece que no ano seguinte, o Gordo Egoísta acabou por ir parar à turma da Maria Idalina, que também desconhecia qualquer movimento moderno, mas era a minha professora querida, sendo que o meu ano de 1977 decorreu atazanado entre um Gordo Egoísta e aquela música, “uma gaivota voava, voava” de contornos levemente revolucionários, que falava em sermos livres de voar e isso, naquele colégio, era uma grande revolução cultural.
O Gordo era o miúdo mais rico da turma, o que levava as melhores bolachas para o lanche, tinha sempre dinheiro para as Bolas de Berlim na cantina, usava borrachas Milan, vindas das Galerias Preciados, em Badajoz, estojos de dois andares com vinte e quatro lápis Viarco- que é claro, nunca emprestava a ninguém e andava sempre com a boca cheia de caramelos. Enfim, o Gordo Egoísta era um miúdo nojento, muitíssimo anafado e com uma penugem negra por cima do lábio. Mas como os pais eram ricos, era o protegido das professoras e no recreio todos queriam fazer parte da sua equipa de futebol – ele era o dono da bola – mesmo sabendo que nunca poderiam marcar os pénaltis. E isto não era tudo, além de um ditadorzinho da bola, o Gordo Egoísta era um torurador do pior denotando, aos sete anos, enorme prazer nos jogos de poder com que nos manipulava, a todos, por um caramelo.
Pequeno aparte que considero interessante, mas que poderão pular, sem perder o rumo ao texto: Nunca mais na vida comi caramelos e ando a tratar disso com o meu analista, porque talvez e digo talvez, já tenha tido tempo suficiente para ultrapassar esse trauma, porque até tenho filhos que são loucos por caramelos e não lhes consigo comprar um único que seja, sem acabar numa néscia prelecção às crianças. Sei que estranharam, mas eu queria mesmo usar a palavra néscia. A isto se chama o prazer da escrita.
Continuando, o clímax da história com o Gordo Egoísta porque depois ele saiu do colégio, foi acontecer num aniversário do dito cujo. Uma festa cheia de pernas de frango assado colocadas em vinte e cinco pratinhos alinhados, em cima de uma mesa enorme e croquetes e rissóis de camarão e sumos de laranja Tang e Bombokas e tias esquisitas a mimarem o bicho.
Aconteceu quando lhe pedi para dar uma volta na bicicleta Mini Órbita Cross vermelha dele e a resposta foi, claro, Não! Não tendo muito mais o que fazer, tinha sido a primeira a chegar à festa fui para o quarto, toda amassada com a nega, jogar ao Petróleo sozinha, o que é muito agradável e odiá-lo para sempre. Como Deus existe e os acasos são para os afortunados (eu), ele estava a vestir a roupa para a festa e para meu gozo – as crianças são muito cruéis - pude ver que tinha uma pilinha ridícula, ridícula. Muito mais pequena que a dos outros amigos da mesma idade. Percebi tudo e tirei uma Conclusão filosófica porque aos sete anos já tinha destes insights: o Gordo Egoísta era um asqueroso, mas tinha uma razão para o ser: uma mini pila da qual precisava vingar-se. É que foi logo lição para a vida: homens egoístas têm pilas pequenas. Têm pilas pequenas e conduzem carros grandes, carros grandes e alemães. Conselho (hoje estou em aconselhamentos): Não sejam egoístas. Aviso: Meninas fujam, meninos que gostem de meninos, fujam. A vida é curta demais para aturar miniaturas.
Toma lá Gordo Egoísta, esta crónica é toda para ti. Aprende a arte da generosidade. Já nem digo do altruísmo. Talvez a pilinha te volte a crescer.
PS – Por exemplo, eu se fosse a Penélope Cruz, do Javier Bardem, juro que não seria egoísta ao ponto de privar as outras mulheres do mundo de darem uma voltinha com um maridão daqueles. Coisas lindas têm que ser partilhadas e nesse caso – de eu ser a Penélope - talvez até também gostasse de ser partilhada.
Porque é que o Gordo não me deixou dar uma voltinha na Mini Órbita Cross? Estúpido. Vocês lembram-se da belezura que eram aquelas bicicletas?
Janeiro 23, 2010
O louco do Chavez disse que os americanos são os responsáveis pelo terramoto no Haiti. O favelado do Liedson chegou a vias de facto com o beto do Ricardo Sá Pinto. A Rita Lee provocou num show fantástico, no Rio, que não votaria na Marina Silva para presidente porque, ela tem cara de quem está com fome. Na Dilma Rousseff também não porque, tem cara de professora de matemática e mete medo.
A Sandra Bullock e a Meryl Streep deram um beijo de nadinha e foram manchete. Aposto que a gira da Sharon Stone, depois de alfinetar a Streep usando a frase “she looks like an unmade bed”, deve estar a rir. Cada uma tem os beijinhos que merece. Não venham dizer que as mulheres não têm piada, é preciso é saber encontrá-las. E isso dá trabalho.
Parece que as loiras são mais determinadas que as ruivas e as morenas. A Pamela Anderson diz que adora ser a típica loira burra, but she´s not my type. Já a Blondie, a Scarlett Johansson ou a Marilyn... Pois. Vamos lá meninas, acabemos todas loiras, no escurinho do cinema ou no You Tube, a olhar atazanadas para a Penélope Cruz, moreníssima, naquela cena do Nine, A Call From the Vatican. Vale tudo menos tirar olhos. Peçam-nos humor, mas nunca coerência.
Janeiro 23, 2010
Janeiro 22, 2010
Logo saia de casa toda linda, toda boa. Pinte as unhas todas do corpo. Cada unha pintada é um degrau subido na auto-estima. Parece parvo, mas é verdade. As mulheres são esta droga, mas boas para amar. Pinte de vermelho. Oiça música, muita música enquanto se arranja, qualquer música, não sou ditadora, recomendo ABBA. Se possível não o queira em casa enquanto se aperalta, diga-lhe que venha directo do emprego, mas não suba, que a espere à porta dentro do carro. Casa eles associam a crianças e você também. E ninguém quer brochar. Ponha perfume e vingue-se no rímel, mas não exagere. Se exagerar vão achar que está insegura. E você não está insegura, mesmo que esteja. Você vai-se perder e vai-se achar durante o jantar. Você é quem manda. Deixe-o beber o que ele quiser, mas confie muito se for whisky, “O whisky é o melhor amigo do homem. O whisky é o cachorro engarrafado”. Trust Vinicius and Tom Jobim. Fale línguas, as mulheres que falam línguas são mais engraçadas, principalmente as que falam mal ou inventam. Por fim beberique a sua primeira caipirinha e saboreie bem porque só vai beber mais uma até ao fim da noite. Não abuse e não misture. Depois vá namorar.
Janeiro 21, 2010
Aconteceu-me agora que estive em Lisboa, alguns meses, achar que a cidade está cheia de betos. Há betos na night, betos empregados de mesa, no call center da Zon, da Vodafone e da TAP (esses são os piores) e as meninas das caixas dos supermercados, quando não são brasileiras, são betas.
Eu que não sou beta, daqueles betos de família, que morei em Benfica, na altura em que Benfica era um bairro dos arrabaldes e gostava de me chamar Pardadela de Abreu e sou só Ferreira Marques, tenho uma queda irreprimível por betos, daqueles que usam fios de prata e dizem a mãe, em vez de a minha mãe. Por isso fiquei quase indignada com a quantidade de betosos falsos, assim de repente e em todo o lado, sem pudor nenhum e cheios daquela voz. Acho até que - mas fiquei um bocado baralhada, estará tudo louco? - num Vidrão perto de Moscavide fui questionada sobre a esquadra de policia mais próxima por uma cigana beta.
Em conversa com um amigo (num restaurante de betos, claro) sobre o fenómeno acima descrito e fulanizando imenso (ler à beto) ele sai-se com esta: Mas esse gajo é beto ou aprendeu a ser beto?
É isso, andamos todos ao mesmo.
Janeiro 20, 2010
É claro que bati palmas ao fim das nove horas e cinquenta minutos fechada no tubo, ao lado de ressonadores anónimos. Não tenho vergonha dessa coisa das palmas, é uma felicidade, tão lindo que é chegar. Chegar sã e salva e olhar cá para fora, pela janelinha do avião e certificar-me de que tudo está no lugar: as balizas na relva que separa uma pista de outra no Tom Jobim ainda estão lá, à espera de um possível jogo de futebol. Eles são loucos, são, mas venha o calor e o ar pesado e o cheiro característico a esgoto da Baía de Guanabara, para me fazerem sentir em casa e acabar com a melancolia lusa. Mesmo se o inferno passa ao nosso lado, as favelas no vidro do carro, porque logo à frente, na curva da saída do Túnel Rebouças vem a Lagoa Rodrigo de Freitas, deslumbrante, reflectindo uma luz qualquer impossível: Deus existe.
Como os Tupinambás, antes dos portugueses e dos chatos dos franceses, volto a querer ser um projecto mal amanhado de “bom selvagem”. Céu azul, mar e praia. É feriado aqui e comemora-se o santo da cidade, São Sebastião do Rio de Janeiro. Estou cheia de vontade de ir comer uma feijoada e começar, quanto antes, a falar à Roberto Leal.
Janeiro 19, 2010
Como sabes, podia muito bem viver sem livros, mas nunca sem música. Além do mais é difícil pra burro fazer amigos quando já só se têm manias. A vida é uma loucura muito melhor contigo por perto. See you later, aligator.
Janeiro 19, 2010
Há um problema que vou ter que ultrapassar para conseguir votar em Manuel Alegre para presidente. Esse problema é a poesia. Não consigo relaxar com poetas na sala - mesmo que estejam calados - fico sempre à espera que se levantem e comecem a declamar um soneto, ou coisa que valha.
Isto é uma coisa chata porque não cai bem dizer que não se aguenta ouvir poesia, sem ficar toda a suar e cheia de vergonha. Mas não consigo. É mais forte do que eu. Começo logo a lembrar-me dos tempos do PREC e do meu pai de barba e pullover vermelho e sapatos de tacão. E da cara do Léo Ferré nos discos e do medo que me fazia ele estar sempre todo desgrenhado e com ar de louco. Também nunca disse a ninguém que o Mário Viegas me fazia impressão. Cheiinha de medo do over acting dele, capaz de a qualquer minuto sair, do ecrã da televisão, para me vir dar uma estampilha. Menina oca, loira burra, burguesa, fascistóide, sem sentimentos. Então mentia, mentia, mentia e acho até que comprei, com a minha semanada, nas galerias Teteia, em Benfica, um disco do José Carlos Ary dos Santos que ouvia até me doer a ponta dos cabelos encaracolados com uma permanente inenarrável.
Ai, isto vai ser uma maçada, caro poeta.
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