O que é que uma mulher quer de um homem? Quer viajar com ele? Perder-se nele, perder-se com ele, ou, nestes tempos de ambiguidade sexual, O que é que uma mulher quer de uma mulher? Viajar com ela? Perder-se nela ou no mundo qualquer (mas muito melhor) dela?
Gostar de viajar pode ser outra coisa que não, querer muito ser levada, enganada, rabiada e talvez outras invenções da nossa língua acabadas em ada? Não.
Existe coisa mais sexy que viajar? Ir para longe da nossa cabecinha merdosa à procura de outras cabecinhas merdosas que nos dêm vontade de voltar a roubar cadeiras, ou livros e queijos e enlatados e sair a correr de lugares novos e querer entrar noutros e andar de bicicleta quando se odeia andar de bicicleta? Não.
Viajar prolonga a vida? Não. A sério; viajar não prolonga a vida. Mas é como se prolongasse, é quase igual, porque nos dá essa noção de que estamos noutro filme, num faz de conta em que tudo é possivel e bom e novo outra vez e brutal, como da primeira vez que boquiaberta olhei o Morro dos Dois Irmãos, no Leblon, no Rio e achei que se vivesse ali até eu conseguiria escrever um livro.
Vocês desculpem a intimidade, mas minhas viagens, são sempre trips de primeira categoria, quer sejam as mais constantes , na cama a ler um livro, na cama no parlapié, na cama a preparar a próxima viagem, quer sejam dentro dos aviões drunfada e cheia de medo e de saudades do que deixei e não pude trazer comigo nas fotografias e nos moleskines cheios de anotações para livros que nunca escreverei.