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um blog da diáspora blasée

Writing Mirror, Music Box 00.05 AM

Junho 24, 2010

 

Diz-se no programa: «É difícil prever o que farão os quatro, tão díspares. Saber o que cada um entende por ilustração faz parte do jogo: quantos verão no espelho da escrita um negativo da imagem, que negativo, quantas sublevações literárias estão e curso quanta prole quantas rasteiras, quantas explosões? Dificilmente será uma caravana. E apostamos, sem estorvo, em quatro aparições. Ainda assim, não vamos tão longe que antecipemos o número de cotovias que podem abrir o Atlântico ao antídoto de uma diáspora blasée, ou quantras transas conduzem as carnes divinas ao pecado.» (Texto roubado ao blog da Quetzal)

 

Afonso Cruz, Fernando Ribeiro, Jacinto Lucas Pires e eu. É hoje, apareçam.

Raúl Meireles, Tiago, Coentrão, Cristiano, Levezinho e os outros todos.

Junho 22, 2010

O golo do Cristino Ronaldo é o golo feliz. Portanto é um golo que um país deprimido não considera. É um golo que em Portugal é uma paia, a mim, portuguesa emigrada é o GOLO que me vinga destes gajos todos.

A meio do jogo e quando já ganhávamos por quatro a zero o comentador brasileiro dizia que Portugal tinha que fazer mais para se qualificar, porque a Costa do Marfim podia dar SEIS, SEIS aos Coreanos. Pois bem, fizemos mais.

Ninguém sabe o gosto de uma vitória de Portugal se nunca tiver estado emigrado no Brasil durante uma Copa.

No Jobi a Bandeira. Na Rio - Lisboa, também. É bom para flutuar.

Até amanhã. Nos Pastéis de Belém.

Ferreira Gullar e poesia, uma vez sem exemplo.

Junho 18, 2010

 

 

Onde Estão?

 

Na enseada de Botafogo o mar é cinza

e sobre ele se erguem os rochedos da Urca,

o Pão de Açúcar.

É tudo solidamente real.

 

Mas e os mortos,

onde estão?

O Vinicius, por exemplo,

e o Hélio? a Clarice?

Não quero que me respondam.

Pergunto apenas, quero

apenas

fundamente

perguntar.

 

Ia cruzando a sala de manhã quando

me disseram: a Clarice morreu.

E no banheiro, depois, lavando as  mãos,

lavava eu as mãos já num mundo sem ela

e água e mãos eram um enigma

de sensações e lampejos

ali na pia.

É que a morte revela a vida dos vivos?

 

Quando Darwin morreu

fomos todos para o seu apartamento na Rua Redentor.

Ele estava esticado num banco

enquanto eu via

pela janelasobre a praia

um helicóptero

a zumbir na atmosfera iluminada

longe.

 

Theresa, Guguta, Zuenir,

estavam todos ali e o bairro

funcionava, a cidade funcionava aquela manhã

como em todas as manhãs.

 

Não era realidade demais

para alguém deixar assim

para sempre?

 

A caminho do cemitério me lembro

havia uma casa espantosamente ocre

recém-pintada - e até hoje me pergunto

o que há de espantoso numa casa ocre

recém-pintada.

 

Não sei se devido à quantidade de automóveis

que há na cidade

o surdo barulho das ruas

e os aviões que cruzam o céu

o certo é que

subitamente

me pergunto por eles.

 

Onde estão?

Onde estou?

O mundo é real demais para alguém pensar

que se trata de um sonho.

 

Ferreira Gullar, in Barulhos

Eu não dei Vuvuzelas aos meus filhos nem bolas que têm nome. Uma bola não tem nome.

Junho 17, 2010

 

 

 

Tenho visto o Mundial ao som do António Variações. Por exemplo no jogo México vs França lembro-me que tocou, quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga. Para o corpitcho não pagar e para disfarçar e porque sou uma dissimulada e quero que gostem de mim tenho tido, junto à bandeira de Portugal, uma bandeira do Brasil na janela. Acontece que odeio o Brasil dos mundiais - menos aquele que perdeu injustamente contra a Itália, com aquela equipa maravilhosa, Zico, Sócrates e mais não sei quem -  havia outro lindíssimo. Ainda hoje me lembro, estava na Barrosinha, em Alcácer do Sal, em casa da minha prima Fedra e fiquei mal, porque eles eram lindos, os melhores jogadores não eram só pretos, ou metrosexuais como o parolo do Ronaldo ou daquele inglês que agora não está a jogar e também não pareciam favelados cheios de guito. O Sócrates era médico.

Eu sei que não sou uma pessoa politicamente correcta, senão não estava para aqui a dizer isto, eu sei que me acho, que tenho as costas quentes, que gosto muito de Bryan Ferry e de bons restaurantes, que esnobo muito pessoas que foram comunas e hoje não têm cara para admitir. Eu fui comuna durante dois anos, no auge de uma paixão adolescente por uma amiga minha linda, e admito. Admito que chorei a ouvir A Internacional, no Alto da Ajuda, aos treze anos, de mãos dadas com ela e que foi fantástico ver o Cunhal e que tive vergonha dos meus pais que gostavam muito do Júlio Iglésias e dos ABBA e de férias em Marbelha e que tudo isso. Portanto, como é lógico, tenho até os meus traumas e foi-me difícil admitir que eu também gostava um bocadinho do Júlio Iglésias, principalmente quando vestido dos pés à cabeça de linho branco.

Como os,  por enquanto quatro, Norte Coreanos também eu ando fugida. Mas eu é da ditadura do meu analista que me quer uma pessoa melhor. Acontece que o que preciso agora é recarregar baterias e mimo. E dizer que estou do lado dos camaradas que fugiram lá na África do Sul porque, ao fim destes anos todos, também  já me passou a paixão pela minha amiga e isso (infelizmente) não me apetece dizer no divã do doutor Zieger, um freudiano que me ia encher de questões inteligentes e porcalhices do género insightiano.

 

PS - Zieger, Eu não sou racista, gosto de pretos e os pretos gostam de mim. Para mais o único jogador do Brasil que suporto é o que fez aquele golo sem saber como, o Maicon e de certeza contra instruções do Dunga, o treinador mais parolo e representante do pior que o Brasil pode ter ( além do Lula e da Dilma).

Quanto a nós, aquele gajo de risca ao meio não ganha nada há vinte anos e é parecido com o treinador burocrata da França . Sim, Carol, estou da Argentina  e depois do Uruguai e do México. Do Novo Mundo, do mundo bom. Menos do Brasil ufano do Lula da Silva.

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