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um blog da diáspora blasée

talvez piercings contra o tédio

Fevereiro 12, 2011

A semana acabou como começou, no cinema. Desta vez, em Ipanema e sem as 43 velhinhas do Leblon, por certo remetidas ao desassossego dos netos e ainda um bocadinho alvoroçadas com as cenas do Black Swan. Fui ver Somewhere, da Sofia Coppola. O tédio, o tédio, o tédio, filmado como ela sabe fazer tão bem: sem a indelicadeza das conversas necessárias. Olhei três vezes para o relógio, o som estava mau, a música do filme nada de especial (ao contrário de todos os filmes dela, deve ser de propósito, o tédio, o tédio), mas o fim é fantástico, ou eu estava sensível o que pode muito bem ser o caso nestes dias que correm. As minhas velhinhas não devem ter tido nada destas porcarias nas vidas delas. Eu acho que a Mila Kunis tem um piercing na língua. Qualquer dia não me aguento e ligo a uma das 43 meninas ou mesmo à Natalie, que é minha amiga, para discutirmos o assunto. Ahhhhh e três vivas aos malucos do egípcios.

No escurinho do cinema

Fevereiro 08, 2011

Eu e mais 43 velhinhas fomos ontem ver o Black Swan às duas da tarde, ao cinema Leblon. Deviam estar uns quarenta graus quando cheguei à porta do cinema, onde uma fila se formava para comprar os ingressos. Pensei imediatamente que poderia ser uma excursão de bailarinas aposentadas, todas vivendo contentes no lar da Casa dos Artistas do Rio, um lugar para onde vão velhinhos sortudos. Os outros ficam em casa com babás sádicas que lhes devem pôr coisos no leite para os verem trepar paredes e andam com eles pelas ruas num passo rápido demais para ver se os coitados tropeçam e morrem. Lá chegarei, mas que seja aqui, no Rio. E afinal as velhinhas não eram todas amigas, nem moravam juntas no lar, nem nada disso.  Não interessa. A sala é enorme e o ar condicionado funciona na perfeição, sentei-me no N19, uma coxia, apagaram-se as luzes e a Natalie Portman... A Natalie Portman vai ganhar o Oscar e vai muito bem - mas no Blueberry Nights está mais bonita e tem um carro descapotável - aqui está louca de pedra, impecável na neurose com que busca a técnica e o sentimento na dança: uma perfeição que não a deixa viver ou sair de uma vida de merda e da casa de uma mãe dez vezes pior  do que a Mia Farrow deve ser para os dez filhos adoptados.

Eu e as 43 velhinhas lá a vimos vomitar-se, arranhar-se, masturbar-se e ter fantasias sexuais lesbianas -  a Natalie Portman e a Mila Kunis não brincam em serviço - em ecrã muito gigante e tudo muito bem feito. Eu e as 43 velhinhas ali fechadas. Todas, todas sem respirar.

O Limoncello

Fevereiro 03, 2011

 

A parte boa de escrever livros, além de se poder passar a dizer que se faz alguma coisa sem ser lavar torneiras e esfregar o chão, ocupações lixadas mas pouco literárias para a maioria dos climbers sociais que por aí andam, é poder conhecer pessoas que "antes" só víamos na televisão. Tem-me acontecido. A maioria das vezes é bom só às vezes é mau, ou porque as pessoas são mais baixinhas, ou mais altas do que esperava, nada mais.

Sobre isso e sobre esse meu deslumbre de às vezes - agora - poder conhecer pessoas que admiro tinha um papelzinho para ler no lançamento do meu livro. Só que como falei a seguir ao Pedro Mexia preferi fingir ser breve e parva e pura, tudo coisas que não sou na vida real. Mas hoje, hoje sonhei com aquilo outra vez. Na primeira fila, bem à minha frente, estava de pernas cruzadas e com os olhos grandes postos em cima de mim, uma das minhas fantasias sexuais do tempo em que eu não blogava, não escrevia, não nada, dava de mamar aos meus filhos e fazia comidinhas ao meu marido e ia às compras ao shopping e mantinha a minha casa naquele estado obviamente limpo de quem está a precisar de noites como as do filme e então olhava para ela. No entanto, no dia em que a conheci ela ofereceu-me um Limoncello. Um Limoncello cheio pronúncia. Olhar para ela nunca mais foi o mesmo.

(e os copos e os copos)

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